Apostila do Evangelho de João
Conteúdo dos Evangelhos

Atualizado em: 08/07/2025
Livro: O pão da vida – cap. 4 a 6
4- Cap.4- Jesus e a mulher Samaritana (4: 1 a 18)
A.12- Jesus e a Samaritana
Texto do Evangelho de João:
4:1 Assim, quando Jesus soube que os fariseus tinham ouvido que Jesus fazia e batizava1 mais discípulos do que João - 4:2 ainda que Jesus mesmo não batizasse, mas os seus discípulos - 4:3 {ele} deixou a Judeia e partiu novamente para a Galileia. 4:4 Era necessário ele 2passar pela Samaria. 4:5 Assim, dirigiu-se a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, próximo do lugar3 que Jacó deu a José, seu filho. 4:6 Estava ali o fonte4 de Jacó. Desse modo, Jesus, cansado5 da jornada, estava sentado sobre a fonte; era quase a hora sexta6. 4:7 Vem uma mulher de Samaria tirar7 água. Jesus lhe diz: Dá-me de beber. 4:8 Pois os seus discípulos haviam ido à cidade, a fim de comprarem alimentos. 4:9 Assim, a mulher samaritana lhe diz: Como tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? - pois judeus não se associam8 com samaritanos. 4:10 Em resposta, Jesus lhe disse: Se conhecesses o dom de Deus, e quem é aquele que te diz “Dá-me de beber”, tu lhe pedirias e {ele} te daria água viva. 4:11 {Ela} lhe diz: Senhor, nem tens vasilha9 e o poço10 é profundo; portanto, donde tens a água viva? 4:12 Porventura tu és maior do que nosso Pai Jacó, que nos deu do poço11, do qual ele mesmo bebeu, como também seus filhos, e seu rebanho12? 4:13 Em resposta, disse-lhe Jesus: Todo aquele que bebe desta água terá sede novamente. 4:14 Mas, quem beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede; ao contrário, a água que eu lhe der se tornará, nele, uma fonte13 de água jorrando14 para a vida eterna. 4:15 A mulher diz para ele: Senhor, dá-me desta água, para que {eu} não tenha sede, nem percorra15 até aqui para tirar16 {água}. 4:16 {Ele} lhe diz: Vai, chama o teu varão e vem aqui. 4:17 Em resposta, disse-lhe a mulher: Não tenho varão. Jesus lhe diz: Disseste bem “Não tenho varão”, 4:18 pois tiveste cinco varões, e o que agora tens não é teu varão. Nisto disseste {a} verdade.
Comentários sobre o texto:
Temos nessa passagem do Evangelho, uma colocação em torno de ensinamentos doutrinários, conforme veremos no desdobrar desse nosso encontro.
Julgar que João Evangelista tenha detalhado tanto um incidente, se se tratasse apenas de pedir um gole d’água para dessedentar-se, é até diminuir a capacidade do evangelista de discernir o que deveria repassar de importante para a posteridade.
O Evangelho está a pedir maior reflexão. Vamos, portanto, à análise dos fatos, sem perda de tempo.
OS FARISEUS
Examinemos a atitude sensata do Mestre, já na abertura. O mestre que bem conhecia o jogo dos fariseus em suas investidas, sabia que esses gênios da hipocrisia, notáveis discutidores de vírgulas com desprezo propositado ao essencial, eram hábeis em explorar situações delicadas.
Eles poderiam criar conflitos com João Batista. Explorando as fraquezas dos discípulos de João Batista, e as inseguranças iniciais dos próprios seguidores de Jesus, não seria muito difícil aos fariseus abrir contendas inúteis entre os dois pequenos agrupamentos.
Jesus alerta-nos sobre o que é justo. Diante da iminência de uma divergência estéril, fundada exclusivamente na exploração das paixões humanas, o recomendável é fazer-se distante das fontes que fomentam as intrigas e discussões, a fim de não pôr a perder a sementeira nascente.
A verdade tem a sua própria força. Deverá, porém, ser preservada dos ataques das sombras quando ainda não tenha sido absorvida pelos corações infantis, para que as crianças espirituais não se perturbem ao aceitarem os desafios hipócritas dos que se apaixonam por lutas inglórias.
É por isso que Ele se retira. Sai do local que se poderia transformar num palco de intrigas e desentendimentos, já que havia um enorme trabalho de vivência das Leis Divinas e de restabelecimento dos fundamentos do Reino de Deus a ser empreendido.
Essa é a medida da prudência, para sempre.
PROVÍNCIA DE SAMARIA
Que vemos Jesus fazendo? Vemo-lo, em se retirando da Judeia onde havia um grande número de estudantes e supostos cultores das Escrituras Sagradas contaminados pelo gosto das interpretações humanas, dirigindo-se à província de Samaria, onde se encontravam os contestadores dos judeus, os hereges segundo a ótica de Jerusalém.
Os samaritanos somente aceitavam os primeiros cinco livros do Velho Testamento, por considerarem que somente eles eram sagrados e continham princípios das Leis Divinas, rejeitando todos os outros.
Faziam-se prisioneiros das letras, sem interpretá-las. Kardec, na introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, faz a seguinte anotação sobre os samaritanos:
“Os samaritanos estiveram quase constantemente em guerra com os reis de Judá. Aversão profunda, datando da época da separação, perpetuou-se entre os dois povos, que evitavam todas as relações recíprocas. Aqueles, para tornarem maior a cisão e não terem que vir a Jerusalém pela celebração das festas religiosas, construíram para si um templo particular e adotaram algumas reformas.
Somente admitiam o Pentateuco, que continha a lei de Moisés, e rejeitavam todos os outros livros que a esse foram posteriormente anexados. Seus livros sagrados eram escritos em caracteres hebraicos da mais alta antiguidade. Para os judeus ortodoxos eles eram, heréticos e, portanto, desprezados, anatematizados e perseguidos. O antagonismo das duas nações tinha, pois, por fundamento único a divergências das opiniões religiosas, se bem fosse a mesma a origem das crenças de uma e outra”.
Era ao encontro deles que Jesus seguia. Conhecia-lhes o coração dolorido e fatigado.
Sabia que naquele agrupamento de almas, fiéis cultores da ideia monoteísta, em rejeitando os decretos humanos e os casuísmos do Sinédrio, não conseguiam desvendar um horizonte mais largo, mais amplo espiritualmente, que lhes permitisse descobrir o significado de todas as leis e de todos os profetas.
Por isso “era-lhe necessário atravessar a província de Samaria”.
A FONTE DE JACÓ
A fonte de Jacó aqui é um símbolo. Estamos, aqui, diante de uma “fonte de doutrina”.
Jesus vai tornar “a fonte de Jacó” como um símbolo dos princípios que emanavam dos primeiros cinco livros do Velho Testamento e onde se dessedentavam espiritualmente os samaritanos, na sua cega sujeição às letras sagradas em seu sentido literal.
Ele vai acordar aqueles homens sinceros, mas confundidos. Precisa mostrar-lhes que as revelações divinas são constantes e secundam as conquistas das inteligências e que não poderemos estacionar no tempo e no espaço, sem o esforço de maior compreensão das Leis Universais que regem a nossa caminhada evolutiva.
Não devemos acolher a malícia dos fariseus. Não nos cabe, porém, o direito de, em a rejeitando, cristalizar-nos num determinado tempo das revelações divinas, impedindo-nos de examiná-las tão-somente por temer a ingerência dos homens.
E Jesus chega com claridade meridiana: “assentou-se junto à fonte, por volta do meio-dia”. Veja que o Mestre chegava à ampla luz do meio-dia.
UMA MULHER
Que é a mulher que veio tirar água? É aquela que, em jamais tendo sido chamada a participar das controvérsias religiosas, assunto que era privativo das almas masculinas, buscava a “fonte de ensinamentos e de doutrina religiosa” de alma pura, limpa das questiúnculas, das intrigas, dos fingimentos, que empanam e anoitecem os mais respeitáveis ensinamentos divinos.
Veja que veio tirar água, buscar consolação, esclarecimento. E Jesus lhe diz:
“— Dê-me de beber.”
Ele estava a pedir uma revisão de ideias. Poderíamos, livremente, traduzir esta solicitação do Mestre, em considerando que a água significa “doutrina”, para: “Diga-me dos ensinamentos que você procura nas tradições herdadas de seus pais, a fim de podermos apreciá-los à luz de novas revelações”.
Jesus não lhe contesta a atitude. Não se opõe à sua busca de consolação. Quer tão-somente trazê-la a um novo estado d’alma.
Em dirigindo-se à mulher, porém, Jesus está a chamar para o ministério divino as criaturas que detenham, de suas experiências reencarnatórias, o maior volume de sentimentos, a fim de que a viciada razão humana não tisne os fundamentos religiosos puros, retardando ainda mais a edificação da consciência profunda no Evangelho.
A resposta que a mulher samaritana ofereceu a Jesus, na pauta de nossa interpretação dos simbolismos contidos na narrativa evangélica, poderia ser traduzida em:
“— Sendo o senhor um dos intérpretes da Lei, que aceita outros reveladores além dos Profetas que se encontram nos primeiros livros do Velho Testamento, como pede que lhe diga dos ensinamentos religiosos que herdei de meus pais, eu que não aceito senão as letras contidas nos livros sagrados?”.
Aí estão os conceitos de “judeu”, “água” e “samaritano”.
O DOM DE DEUS
O entendimento prossegue entre Jesus e a samaritana. O Mestre, como sempre, não investe contra as convicções. Sabe Ele, em toda a sua extensão, que o crescimento das conquistas espirituais sempre terá como base as experiências alcançadas pela própria alma nas suas peregrinações pelos caminhos da dor.
Nada é desprezível ou desprezável. Necessário, tão-somente, empreender a “reforma íntima”.
Importa, assim, fazer um reajustamento dos valores já conquistados pelas criaturas, com aproveitamento de todas as suas experiências anteriores, a fim de que as mesmas sirvam de base para a edificação do verdadeiro cristão.
E o Mestre deita uma extraordinária advertência: “— Se você conhecesse o dom de Deus!”.
Diz-nos que não devemos ficar escravos da vontade dos homens.
A vontade Divina é sempre o nosso bem e ela vai além de nossa parca imaginação, transcendendo em muito aos nossos conceitos, às nossas verdades transitórias, cabendo-nos a obrigação de tentar interpretá-la, para reajustar o nosso modo de ver e sentir a própria vida.
Se conhecêssemos a vontade de Deus, sofreríamos menos. Não estaríamos presos de tantas ansiedades. Superaríamos muitas frustrações e inibições. Não tomaríamos os descaminhos que levam à dor. Abandonaríamos as sendas dos conflitos.
Estamos, apesar de tudo, a caminho de conhecê-la. E Jesus vai além dessa afirmação profunda e, pela ordem do anunciado, como uma premissa indispensável para as demais conquistas do espírito, numa interpretação livre, diz:
“— Se você conhecesse o dom de Deus e quem lhe pede dos ensinamentos que você procura nas tradições herdadas de seus pais, a fim de poder apreciá-los à luz de novas revelações, é o próprio Cristo que tem a Vida em si, por certo que você mesma lhe pediria indicações sobre o Reino de Deus e Ele lhe daria todos os princípios que regem a bênção da Vida”.
Que fazemos, porém, nós, diante do Mestre? Se Ele próprio está assentado, asserenado, junto à fonte de nossos conhecimentos e de nossos desejos, ofertando-se para amparar-nos, nós estamos confundidos com as nossas próprias inquietações, incapazes de reconhecer o amparo que Ele nos pode doar.
A Ele devemos rogar pela água viva! Nossa atitude, porém, ainda é da samaritana, nessa altura, que lhe replica ante a manifestação da misericórdia:
— “O senhor não tem com que tirá-la, e o poço é fundo; onde, pois, tem a água viva? É o senhor, porventura, maior que os nossos conhecimentos e as nossas tradições, de que se embeberam os nossos maiores e transmitiram a seus filhos e a tudo o mais?”.
TER SEDE
Nossas conquistas imediatas, porém, não nos asserenam. A vitória de hoje é amargor amanhã. Um sonho que se realiza, revela-se um pesadelo. Os bens amealhados provocam apreensões. Alcançando o coração de alguém, tornamo-nos senhores.
E, após visitados pelos desencantos de conquistas que tenham o sabor de derrotas, sentimos sempre sede de mais e mais, porque bebemos de uma água ilusória e fugaz que não dessedenta para sempre.
Teremos sede, enquanto não tivermos o Evangelho em nós.
“— Quem beber desta água tornará a ter sede. Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der, nunca terá sede, para sempre. Mas a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna”.
Para isso nos leva a doutrina de Jesus!
Basta que dela nos absorvamos, introduzindo-a como parte de nosso cotidiano, de nosso dia a dia, para que ela se torne, em nós mesmos, uma poderosa fonte que nos dirigirá para os padrões espirituais da Vida Eterna, instalando em nós a serenidade, fruto de todas as virtudes cristãs. Até lá, teremos sede.
CHAME SEU MARIDO
A mulher samaritana, nessa altura, envolvida pelo doce magnetismo de Jesus, compreendeu o alcance da promessa que ouvia, rendendo-se ao apelo celestial: “— Senhor, dê-me dessa água, para eu já não ter sede nem vir aqui buscá-la”.
Ela desejava vida nova. Esgotara todas as suas energias mais caras na procura repetida dos mesmos princípios, das mesmas ideias, dos mesmos desejos, sem nunca ter sentido segurança, paz interior, harmonia em seu próprio coração, assim como nós.
E suplicava para receber a bênção da luz redentora. Laços de família! Compromissos de um passado recente ou distante. Embora seja o Cristo a água viva, cuja presença em nosso interior nos ajustará a uma vida equilibrada na vivência das Leis Divinas, ninguém alcançará trazê-lo para o seu íntimo sem assumir o pretérito milenar.
Jesus convoca, à sua presença, o nosso sombrio ontem. Ele nos amparará para que solucionemos os enigmas que engendramos em nossa retaguarda nas sucessivas reencarnações, uma vez que não haverá serenidade interior enquanto não resgatarmos as dívidas do amor não vivido ou do desamor cultivado.
É que, quase sempre, no portal de nosso encontro com o Mestre, queremos cobrar um estado de graça. Desejamos sacudir de nós mesmos as amargosas consequências de todos os nossos enganos de outrora, como se fosse possível, num passe de mágica, desatrelar-nos de nossas vítimas.
Queremos anistia de nossos débitos! Diz, porém, Jesus: — “A água viva é uma fonte a jorrar para a vida eterna”.
Ela não é, pelo proposto, a vida eterna em si.
Os seus ensinamentos nos colocarão no rumo de um estado espiritual sublimado, mas não poderemos adentrar num clima de perplexidade querendo despojar-nos dos laços de família, dos laços de compromisso, sem dar-lhes as soluções indicadas pelo amor ao próximo e amor aos nossos inimigos.
Aceitar o Cristo não é derrogar a lei de causa e efeito. É fazê-la cumprir-se em nós, no óleo santo da misericórdia. Por isso, determina o Mestre Amado:
— Vá, chame os laços afetivos de seu passado e vem cá!
Apostila do Evangelho de João
Click no link abaixo, para ver o livro
LIVRO EM ESTUDO | APOSTILA DO EVANGELHO DE JOÃO |
Mais Informações